sábado, 26 de junho de 2010

Atitude frente o sofrimento



Após o naufrágio do Titanic, um jornal publicou, lado a lado, dois desenhos que interpretavam a tragédia. O primeiro retratava o pânico dos que não tinham lugar nos escaleres, e iriam perecer. Logo abaixo, a legenda: O poder da natureza e a fragilidade do ser humano.

Já o segundo desenho reproduzia a mesma situação, mas destacava um punhado de mulheres e homens a cantar com a orquestra: Mais perto quero estar, meu Deus, de Ti; ainda que seja a dor que me una a ti. E a legenda trazia um testemunho: O poder do ser humano e a fragilidade da natureza.

Certa vez um grande sábio, meditando profundamente sobre a vida, chegou a uma conclusão que nos deixa completamente estupefatos: “Viver é sofrer.” Enquanto estivermos atados ao fio da existência, estaremos sujeitos ao sofrimento, pois viver é sofrer. Acredito que não existe outra coisa que faça mais os homens clamarem aos céus quanto a dor e o sofrimento.

Assim como o poeta Vinícius de Moraes musicou: “Quem já passou por essa vida e não sofreu, pode ser mais, mas sabe menos do que eu, pois essa vida só se dá pra quem se deu, pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu.”

A tristeza não escolhe destinatários. O sofrimento e a dor sobrevêm a todos, inclusive ao cristão. Entretanto, embora possa abater o espírito de muitos, elevam o espírito daqueles que aprenderam seus segredos. Se a finalidade é o caráter, todo sofrimento parece necessário, pois uma ave não pode voar senão num meio adverso e nós não podemos elevar senão sobre alguma derrota. Assumir atitudes retas em face das provações é multiplicar as possibilidades de êxito nas lutas que temos de enfrentar na vida.

Quando o caminho está impedido em todas as direções, há sempre a possibilidade de um movimento para cima. Quando a visão em redor não é boa, podemos sempre experimentar uma visão para cima. Quando alguém aprende este segredo, não está mais sujeito à tirania das palavras faladas a nível inferior; ouve a palavra de fala superior, apodera-se dela como Pedro que, ao submergir, agarrou a mão de Jesus, e andou sobre o encapelado mar das circunstâncias e do sofrimento, no qual a maioria dos homens que não tomam essa atitude, naufragam e perecem.

(Bruno Oliveira)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A postagem desta semana é especial para minha amiga Carol Durães...


A mais forte lembrança que tenho dos meus primeiros anos de vida é minha querida mamãe costurando. Eu estava no chão, brincando perto dela... Observava seu trabalho de uma posição debaixo da máquina de costura e perguntava o que ela estava fazendo. Mamãe me respondia:

- Costurando, meu filho...

Eu achava esquisito que de onde olhava, tudo parecia muito estranho e confuso. Eu não entendia nada. Com toda aquela curiosidade infantil me perguntava lá de baixo:

"Por que ela usa alguns fios de cores escuras e outros claros? Por que eles me parecem tão desordenados e embaraçados? Por que estavam cheios de pontas e nós? Por que não tinham forma definida? Por que demorava tanto para fazer aquilo?"

Bem mais tarde, quando estava brincando no quintal, mamãe me chamou:

- Filho, venha aqui e sente-se em meu colo; quero lhe mostrar uma coisa.

Fui correndo, pois estava louco pra ver a sua "obra" acabada. Sentei no colo dela e me surpreendi ao ver o bordado. Não podia acreditar! Lá de baixo parecia tão confuso e, agora, vendo de cima, via uma paisagem maravilhosa! Como podia ser? Então mamãe me disse:

- Filho, vendo de baixo, tudo parecia confuso e desordenado porque você não via que na parte de cima havia um belo desenho. Mas, agora, olhando o bordado da minha posição, você sabe o que eu estava fazendo...

Muitas vezes, ao longo dos anos, tenho olhado para o céu e dito:

- Pai, o que estás fazendo?

Ele parece responder:

- Estou bordando a sua vida, filho.

E eu continuo perguntando:

- Mas está tudo tão confuso, Pai, tudo em desordem. Há muitos nós, fatos ruins que não terminam e coisas boas que passam rápido. Os fios são tão escuros... Por que não são mais brilhantes?

O Pai parece me dizer:

- Meu filho, ocupe-se com seu trabalho, descontraia-se, confie em Mim, e Eu farei bem o meu trabalho. Um dia, colocarei você em meu colo e, então, você vai ver o plano da sua vida da minha posição!

Muitas vezes não entendemos o que está acontecendo em nossas vidas. As coisas são confusas, não se encaixam e parece que nada dá certo. É que estamos vendo o avesso da vida. Do outro lado, Deus está bordando...

(Bruno Oliveira)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce...”

Fernando Pessoa

O querer de Deus é o grande fator motivacional do universo. Quando Ele deseja algo não há nada, nem ninguém, que possa frustrar seus planos. Este querer divino motiva a fabricação de um combustível humano chamado sonho. Todo este processo desencadeia uma verdade óbvia: A Obra nasce!!! A semente do evangelho, germinando no coração humano, é tão-somente reflexo da vontade de Deus e nos mostra que nosso papel não é o de nos preocupar, de maneira desesperada, com os resultados, mas sim, nos ater a missão que nos foi dada: Semear a palavra...
O grande desafio é demonstrar o amor de Deus rompendo as barreiras das palavras e entrando na esfera da ação. Não consigo imaginar a pregação do evangelho sendo realizada de uma outra forma. Pregar o evangelho é muito mais do que olhar para uma criança morando no esgoto e dizer: “Jesus te ama!” Pregar o evangelho é entrar no esgoto, abraça-la e dizer: “Jesus ama você, por isso eu vou tira-la daqui, vou te dar um futuro, vou cuidar de você...” É o que São Fco de Assis tinha em mente ao dizer: “Pregue o evangelho; havendo necessidade use as palavras.”
(Bruno Oliveira)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

“A hora mais escura da noite é justamente aquela que nos permite ver melhor as estrelas.”
Charles A. Beard

Não há porque temer a noite. Não há porque se desesperar frente ao obscuro. Deus também está no meio da noite, no vale assustador, nos lugares onde nunca imaginamos encontrá-lo. E porque Ele faz isso? Por amor a nós. Amor que constrange, que cuida, que vai até o fim (Jo 13:1). E nesses momentos de extrema angústia, em meio a essa escuridão, ele nos apresenta a estrela que nunca veríamos se não fosse o breu a nos envolver. E questionamos como nunca havíamos enxergado essa estrela, tão bela em toda a sua pequenez e amplitude, beleza que nos faz ignorar esse paradoxo e só... admirar... quão magnífica e esplendorosa é...

Assim como José no Egito, aprendemos que Deus sempre faz algo especial no tempo das vacas magras, no seu caso, o reencontro com seus familiares. Quais estrelas que a escuridão da noite está nos mostrando, nos fazendo enxergar? A hora mais escura sempre traz a tona coisas até então imperceptíveis.
(Bruno Oliveira)
“Deus é um grande intervalo. Mas entre o que e que? Entre o que digo e o que calo...”
Fernando Pessoa

Muito mais do que um ser que se pode dimensionar pelas estreitas linhas do nosso pensamento ou da nossa teologia, Deus, como Pessoa preferiu classificar, é um grande intervalo. Manifesta-se numa lágrima solitária, num silêncio aparentemente torturador, num momento - que tem se tornado raro na tradição cristã - onde nos limitamos à condição humana e nos calamos frente ao inaudito, onde aceitamos o conselho do teólogo alemão Wittgenstein que nos diz que “sobre o que não se pode falar, é melhor se calar...”

Passo então a entender quando Rubem Alves diz que pra aprender mais sobre Deus, ele não busca nos livros de teologia, mas sim, nas poesias. Nada contra a teologia, pois todos nos vivemos a construí-la, sabiamente escrevendo-a a lápis. Entretanto, conforme diz Mário Quintana “um poema é uma janela aberta.” Não se tranca, não se limita, não se define, aceita-se o obscuro intervalo ao som de uma saliva a descer pela garganta, de um olhar para o vazio, de um Deus que não se pode limitar através de uma “teologia escravisadora,” mas que se deve pensar por meio de uma “teologia poética.”
(Bruno Oliveira)