“Deus é um grande intervalo. Mas entre o que e que? Entre o que digo e o que calo...”
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
Muito mais do que um ser que se pode dimensionar pelas estreitas linhas do nosso pensamento ou da nossa teologia, Deus, como Pessoa preferiu classificar, é um grande intervalo. Manifesta-se numa lágrima solitária, num silêncio aparentemente torturador, num momento - que tem se tornado raro na tradição cristã - onde nos limitamos à condição humana e nos calamos frente ao inaudito, onde aceitamos o conselho do teólogo alemão Wittgenstein que nos diz que “sobre o que não se pode falar, é melhor se calar...”
Passo então a entender quando Rubem Alves diz que pra aprender mais sobre Deus, ele não busca nos livros de teologia, mas sim, nas poesias. Nada contra a teologia, pois todos nos vivemos a construí-la, sabiamente escrevendo-a a lápis. Entretanto, conforme diz Mário Quintana “um poema é uma janela aberta.” Não se tranca, não se limita, não se define, aceita-se o obscuro intervalo ao som de uma saliva a descer pela garganta, de um olhar para o vazio, de um Deus que não se pode limitar através de uma “teologia escravisadora,” mas que se deve pensar por meio de uma “teologia poética.”
(Bruno Oliveira)
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