sexta-feira, 4 de junho de 2010

“Deus é um grande intervalo. Mas entre o que e que? Entre o que digo e o que calo...”
Fernando Pessoa

Muito mais do que um ser que se pode dimensionar pelas estreitas linhas do nosso pensamento ou da nossa teologia, Deus, como Pessoa preferiu classificar, é um grande intervalo. Manifesta-se numa lágrima solitária, num silêncio aparentemente torturador, num momento - que tem se tornado raro na tradição cristã - onde nos limitamos à condição humana e nos calamos frente ao inaudito, onde aceitamos o conselho do teólogo alemão Wittgenstein que nos diz que “sobre o que não se pode falar, é melhor se calar...”

Passo então a entender quando Rubem Alves diz que pra aprender mais sobre Deus, ele não busca nos livros de teologia, mas sim, nas poesias. Nada contra a teologia, pois todos nos vivemos a construí-la, sabiamente escrevendo-a a lápis. Entretanto, conforme diz Mário Quintana “um poema é uma janela aberta.” Não se tranca, não se limita, não se define, aceita-se o obscuro intervalo ao som de uma saliva a descer pela garganta, de um olhar para o vazio, de um Deus que não se pode limitar através de uma “teologia escravisadora,” mas que se deve pensar por meio de uma “teologia poética.”
(Bruno Oliveira)

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